Ao negar pedido de revogação da prisão preventiva da personal trainer Mayara Bruno Soares Trombim e do esposo dela, Benedito Max Garcia, o juiz Jean Garcia de Freitas Bezerra, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, expôs detalhes de relatórios financeiros que mostram movimentações milionárias e compra de carros de luxo para lavar dinheiro da facção criminosa Comando Vermelho. A profissional de educação física é sócia das empresas M B Soares Eireli e MB Soares Trombim Confecções, que movimentaram R$ 10 milhões em crédito e débito mesmo não possuindo sede física e nem funcionários.
Sua defesa alegou que ela não praticou ocultação patrimonial, pois sua única participação seria na venda de uma motocicleta BMW S 1000 RR, moto esportiva de cor preta, de altas cilindradas, avaliada em cerca de R$ 55 mil, conforme estimativas verificadas em sites de compra e venda na internet. Sustentou ainda que provará que a empresa MB Soares Eireli atua licitamente em sua atividade principal, “com inúmeros contratos, lançamentos de notas, balanços, emissão de notas à prefeitura, e funcionário informal, e que, inclusive, todos os seus veículos são comprovadamente financiados, pelo que não há que se falar em desproporcionalidade patrimonial”.
Tais argumentos foram desmontados pelo magistrado ao reproduzir trechos de relatórios mostrando os milhões de reais movimentados pela personal trainer que declara ter rendimentos mensais de R$ 3 mil. A Operação Mandatário foi deflagrada em 18 de janeiro deste ano numa atuação conjunta da Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Sistema Penitenciário e Polícia Rodoviária Federal no âmbito da Força-Tarefa de Segurança Pública (FTSP-MT).
A ação buscou desmantelar um esquema criminoso de contabilidade em favor do Comando Vermelho em Cuiabá e Várzea Grande resultando na prisão de Jonas Souza Gonçalves Júnior, o “Batman”, tido como um dos líderes da organização criminosa e outros membros, incluindo Mayara que está grávida, e seu companheiro Benedito Max, ex-presidiário já conhecido por seu histórico criminal e envolvimento em diversas práticas criminosas.
Outros presos foram Janderson Gonçalves da Costa, Luelson Leandro Curvo, Anderson Anjos Teixeira e Filipe Antônio Bruschi, conhecido como “Loirão” que se apresentava como o advogado do grupo criminoso mesmo sem ter concluído o curso de Direito e sem registro junto à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Na ação foram apreendidos os seguintes veículos: um Toyota Hillux, um Corolla Altis premium, um Jeep Renegade, um Fiat Mobi, um VW Gol, um Corolla XRS20, um Jeep Compass Limited D, um Corolla Gli, quatro veículos Ford KA, dois Honda Civic, dois caminhões (L 1518 e 13.180), um Land Rover Discovery, uma lancha (armada Yachts), um Jet-Ski SeaDoo e uma motocicleta BMW GS 310.
Sobre o pedido de liberdade ao casal Mayara e Benedito Max, o juiz da 7ª Vara Criminal afirmou que são fortes os indícios da participação na facção CV tendo como objetivo lavar o dinheiro do crime utilizando as empresas e comprando diversos veículos de luxo. Em nome da empresa MB Soares Eireli foram apreendidos sete veículos, embora relatórios juntados ao processo apontam que somente em 2020 a empresa adquiriu 13 veículos que somados chegam ao valor de R$ 922,6 mil.
Conforme o magistrado, da análise das informações constantes nos relatórios produzidos pela equipe de investigações da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Mato Grosso (FICCO/MT), “é possível concluir que a empresa M B Soares Eireli é utilizada para omitir valores de proveniência possivelmente ilícita, tendo em vista que não possuis ede física e empregado cadastrado, não há declaração de rendimentos junto aos órgãos competentes e, mesmo assim, movimenta milhões em suas contas bancárias, realiza grandes transações com cartão de crédito e possui um considerável valor de patrimônio adquirido no ano de 2020”.
EMPRESA DE FACHADA
As investigações apontaram ainda que a empresa M. B. Soares Trombim Confecções, também vinculada à personal trainer Mayara Bruno Soares Trombim, possui cadastro com sede na Av Professora Edna Maria de Albuquerque Affi (Av. das Torres) no bairro Santa Cruz, em Cuiabá, teve início de suas atividades em setembro de 2018, com capital social declarado de R$ 20 mil . Contudo, as diligências realizadas pela equipe de investigação e formalizadas em relatório juntado ao processo, não encontraram elementos que pudessem comprovar o pleno exercício das atividades empresariais, tendo em vista que no endereço de cadastro, na verdade, funciona a empresa do exmarido de Mayara.
Também não há trabalhadores vinculados à a empresa que mesmo assim continua ativa e com transações realizadas pela personal trainer em 2020. Análise financeira apontou que a M.B. Soares Trombim Confecções movimentou R$ 2,2 milhões (crédito + débito) em 2020. A quebra de fiscal e financeiro da empresa mostrou que não houve declaração de rendimentos junto à Receita Federal do Brasil durante o período de 2017 a 2020. Também não se identificou bens declarados aos órgãos competentes, apesar da existência de dois veículos registrados em nome da empresa.
COAF
“A investigada Mayara Bruno Soares Trombim possui rendimento mensal declarado de R$ 3.000,00(três mil reais), exercendo a profissão de personal trainer, mas sem vínculo formal de emprego e ainda assim vem acumulando patrimônio considerável, como se observa da recente aquisição de um imóvel tipo apartamento, em área nobre da Cidade de Cuiabá, no valor de R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais), conjunto de apartamentos tipo kit net, veículo de luxo no valor de R$ 166.000,00 (cento e sessenta e seis mil reais), etc”, diz outro trecho do relatório citado pelo magistrado.
A persona declarou à Receita Federa entre 2017 e 2020 um rendimento anual aproximado de R$ 50 mil, mas os investigadores constaram uma movimentação financeira totalmente incompatível, sendo inclusive motivo de comunicação do Coaf por entender estar diante de transações atípicas e com suspeita de ocultação da origem dos valores recebidos.
“Demais disso, a representada Mayara figura como sócia de duas pessoas jurídicas, quais sejam M B Soares Eireli e MB Soares Trombim Confecções, que não possuem sede física em seus endereços cadastrados, muito menos empregado vinculado em suas atividades e, mesmo assim, somados os valores das duas empresas, movimentou mais de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) a título de crédito e débito, sem que seja confirmada qualquer atividade comercial desenvolvida pelas pessoas jurídicas”.