Fila para ganhar ossinhos na lateral de açougue no cpa aumenta com a visibilidade

Para sanar a fome, centenas de pessoas esperam sob sol por horas para conseguir doação de alimentos, em Cuiabá. A cena virou uma rotina. Há meses um açougue ganhou notoriedade por doações de ossinhos e, desde então, a busca pelos alimentos só aumenta. Com a visibilidade, instituições passaram a ajudar.  e outras também apareceram para tirar proveito da situação.

Nesta segunda-feira (30) uma grande ação foi realizada para doação de sacolões, juntamente com ossinhos, a pessoas previamente cadastradas, contudo são muitas pessoas precisando de ajuda, acima das que estava registradas para receber os donativos.

 

Luiz Leite

Fila dos ossinhos 30 de agosto de 2021

 Samara Rodrigues

“A gente tem 512 pessoas cadastradas aqui. Tínhamos 480 cestas para doar. Algumas entregues pelo governo do Estado, outras pelo Instituto Canopus, Sicoob e algumas de grupos de amigos que doaram tipo um fardo de arroz de feijão e a gente montou. Conseguimos mais 50 cestas, porque não tem como a pessoa vir aqui e a gente dizer que não tem nada para doar”, relata a proprietária do açougue que iniciou as doações, Samara Rodrigues.

Para muitas pessoas a doação é o único alimento à mesa, para outros significa um complemento pois o dinheiro que consegue comprar não é suficiente para alimentar todos.

 

Luiz Leite

 Pacote de ossos incrementam refeições

Ruti Queiroz de Matos, 21, tem 3 filhos. O caçula, com 4 meses, é levado até o ponto de doação. Ela vai constantemente pegar as doações e caminha cerca de uma hora entre sua casa e o ponto. A longa caminhada é feita sob o sol, empurrando o carrinho de bebê.

“Meu esposo trabalha em salão. Com o movimento parado, ele não recebe. O que a gente recebe aqui ajuda muito na alimentação”, relara a mulher, que prepara o ossinho com batata, principalmente.

Naijara Monique, 30, é vendedora, mas está desempregada desde antes da pandemia. Ela soube pela prima, Ruti Matos, das doações e buscou ajuda também. Ela mora com a filha.

“Agora eu consigo ajuda com doações de todo tipo, de amigos e vizinhos. Agora soube aqui das ações e vim tentar pegar”, relata a mulher que enfrenta a fila pela primeira vez.

 

Luiz Leite

 Ofília buscas doações todos os dias

Idosos e mulheres compõem grande parte do público que espera por doações. São pessoas que que não conseguiram se aposentar, que estão desempregadas ou que recebem um salário mínimo e não conseguem se alimentar dignamente após pagar as demais despesas.

Ofília dos Santos, 63, mora na região do CPA 4 e enfrenta quase uma hora na viagem de ônibus para conseguir a doação. Ela vai todos os dias que têm doação, buscar os alimentos. Três pessoas moram na casa e o único que trabalha é o marido.

“Eu cheguei era 6h e estou esperando. Eu já peguei doações algumas vezes, já vim aqui e não tinha mais nada porque o pessoal já tinha entregado tudo”, relata.

Maria do Carmo Oliveira, 64, é aposentada há 7 anos e vive com R$ 600, o resto do salário mínimo fica com o banco para pagar empréstimo usado para colocar muro na casa. Ela relata que reside sozinha, em casa própria. Ela lembra que comprou o imóvel há 26 anos e pagou com um vídeo cassete.

“Naquela época o videocassete valia alguma coisa, comprei o barraco com ele”, afirma. O pouco que sobra da aposentadoria não dá para pagar as despesas de casa e comprar comida. Quando soube das doações, ela foi ao local tentar pegar o sacolão.

A cesta básica entregue tem arroz, feijão, farinha de mandioca, leite, açúcar, fubá e óleo. Algumas pessoas não tinham cadastro e esperaram ainda mais na fila, pois os donativos foram entregues primeiro a quem tinha sido registrado.

Na fila havia desentendimentos e gritaria sobre a ordem de espera, quem pegou mais doações do que deveria e queixas sobre cadastro.

 

Alerta de golpe
Além disso, a empresária conta que houve grupos de pessoas pedindo doações em dinheiro em seu nome e do açougue, o que era golpe. “Nós nunca pedimos dinheiro e eu já registrei um boletim de ocorrências sobre isso”, relata.

Por conta do sol quente, o governo do Estado cedeu tendas para abrigar a equipe organizadora das doações e a comunidade que espera, além das cestas básicas.

Enquanto a equipe do Jornal esteve no local, foi informado que populares que buscam o Centros de Referência de Assistência Social (Cras) de Cuiabá estavam sendo encaminhados para o açougue. O que foi negado pela prefeitura. A assessoria da Pasta encaminhou a seguinte nota:

A Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa com Deficiência esclarece que:

-A equipe de abordagem social realiza busca ativa da população em situação de vulnerabilidade social na capital de forma contínua. Seguindo a política de assistência social, esse levantamento possibilita a oferta dos serviços socioassistenciais e benefícios mantidos pelo Governo Federal;

-Especificamente sobre a fila em frente a açougue na região do CPA, as equipes de Proteção Social Básica e Especial estiveram no local e realizaram levantamento sobre as famílias em situação de vulnerabilidade e quais já foram referenciadas, objetivando a identificação das famílias mais carentes visando promover a inclusão destas pessoas junto aos serviços socioassistenciais;

-Foram identificadas 80 pessoas em situação de vulnerabilidade. Deste total, 70% não estavam referenciadas pelo Centro de Referência Social (CRAS ) de abrangência. O município conta com 14 unidades distribuídas nos bairros Jardim Araçás, CPA, Novo Horizonte, Jardim União, Planalto, Tijucal Getúlio Vargas, Osmar Cabral, Pedra 90, Dom Aquino, Pedregal e Dr. Fábio;
Diante desse resultado, o próximo passo é realização das visitas in loco nos endereços residenciais informados.

Quanto a denúncia sobre o suposto comportamento inadequado por um servidor, como relatado pela equipe de jornalismo, como não existe especificidade de onde teria ocorrido a situação, a Pasta esclarece que só pode adotar medidas

especificadas mediante a informação, mas reitera que jamais vai compartilhar com inicitivas que gerem transtornos aos cidadãos.

Por fim, reitera que é postura da Secretaria deixar de atender as necessidades das famílias carentes da capital e que a gestão municipal investe no ser humano, em atendê-lo em suas necessidades básicas sim, mas para além disso, prepará-los para superar a situação em que se encontra, com oferta de cursos de qualificação profissional que visam o acesso ao mundo do trabalho, ao emprego e renda.

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